Disputa na final contra Jordy Smith valeu a liderança do circuito
Crédito: Damien Poullenot / WSL via Getty Images
O potiguar Italo Ferreira deu um show no melhor dia de ondas em Supertubos, para conquistar o bicampeonato consecutivo no MEO Rip Curl Pro Portugal, com seus aéreos no sábado em Peniche. Foi voando que ele ganhou a primeira nota 10 do evento esse ano, logo em sua primeira onda. Na seguinte, conseguiu 7,83, que depois trocou por 8,43, para derrotar o sul-africano Jordy Smith com uma “combination” de 18,43 a 6,17 pontos. A final desta penúltima etapa do World Surf League Championship Tour 2019, valia a liderança do ranking para o vencedor e Italo vai vestir a lycra amarela do Jeep Leaderboard na decisão do título mundial no Billabong Pipe Masters, de 08 a 20 de dezembro no Havaí. A batalha principal será entre três brasileiros, o novo líder, o defensor do título em Pipeline, Gabriel Medina, e Filipe Toledo, mas Jordy Smith e o californiano Kolohe Andino também estão matematicamente na briga.
“Foi um evento incrível e estou muito feliz por ter começado a bateria com uma nota 10. Agora é só comemorar com essa torcida que lotou a praia hoje (sábado)”, disse Italo Ferreira, logo que saiu do mar. “A torcida brasileira é a melhor em qualquer lugar do mundo e agradeço a todos eles, meus amigos, ao meu amor e todos que sempre me apoiaram”, completou o potiguar de Baía Formosa, na divisa entre os estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Italo Ferreira pode ser o primeiro surfista da Região Nordeste do Brasil a conquistar o título mundial na World Surf League e ele subiu no pódio com uma faixa preta sobre sua prancha, simbolizando as manchas de óleo que vêm surgindo em várias praias nordestinas. “Quero dedicar essa vitória ao meu tio (falecido no mês passado), que certamente está lá no céu vibrando com essa vitória e mandando boas energias. Minha prancha aqui é uma homenagem à galera lá do Nordeste, que está sofrendo com o óleo vindo do mar, então está aí uma faixa preta nela pra esse povo guerreiro, que batalha tanto por uma vida melhor. Eu sou um dos representantes deles, então estou aqui protestando contra esse desastre em nossa região”.
Antes, Italo falou mais especificamente sobre o bicampeonato em Portugal e a chance de conquistar seu primeiro título mundial esse ano: “Foi muito legal o evento, estou muito feliz por ser o primeiro a vencer essa etapa duas vezes e parabéns a todos que estão aqui no pódio, o Jordy (Smith), a Caroline (Marks), a Lakey (Peterson), porque foi um grande evento e muito especial para mim. Estou muito feliz comigo mesmo, pelo que fiz no campeonato todo, por minha namorada estar aqui comigo, meus amigos, minha família, foi realmente incrível. Fiquei completamente em êxtase quando aterrissei daquele aéreo na minha primeira onda, pois a vitória começou ali. O Jordy Smith é um dos melhores competidores do mundo e eu precisava algo diferente para derrotá-lo. Agora estou na frente e vai ser muito divertido a decisão do título no Havaí. O jogo está aberto e vou tentar ser campeão, certamente”.
CAMPANHA DO BI – As apresentações de Italo Ferreira no sábado de ótimas ondas para voar em Supertubos, foram espetaculares. As quartas de final do MEO Rip Curl Pro Portugal vinham sendo adiadas desde a segunda-feira, mas valeu a pena esperar. O último dia não começou bem para o Brasil, com o japonês Kanoa Igarashi impedindo que Filipe Toledo já reassumisse a liderança do ranking com a classificação para as semifinais, derrotando-o por 15,24 a 12,26 pontos. O duelo seguinte foi 100% brasileiro e Caio Ibelli praticamente confirmou seu nome no CT 2020 com a vitória sobre o paranaense Peterson Crisanto por 12,86 a 11,83.
Italo Ferreira entrou para disputar a última quarta de final e, precisou usar os aéreos com maestria, para superar o australiano Jack Freestone com novos recordes nas ondas de Supertubos esse ano, 18,40 a 16,87 pontos, somando notas 9,57 e 8,83. Depois, Jordy Smith acabou com a chance de Kanoa Igarashi seguir na briga do título mundial com a nota 9,33 que conseguiu nos últimos segundos e virou o resultado para 15,83 a 12,66 pontos. O sul-africano chegava à final da etapa portuguesa pela terceira vez, agora tendo a chance de assumir a liderança do ranking se conseguisse a primeira vitória no MEO Rip Curl Pro Portugal.
SEMIFINAL BRASILEIRA – A semifinal brasileira também foi superdisputada e Italo começa forte, massacrando uma direita com quatro pancadas muito potentes de backside que valeram nota 8,00. Caio responde também numa direita com um layback incrível, desgarrando a rabeta da prancha e atacando a onda mais uma vez para receber 7,43. Depois, Italo manda um aéreo rodando no inside de uma esquerda que rende nota 6,00, mas Caio completa um voo mais alto e mais difícil numa direita que iguala seu 7,43, assumindo a ponta por 14,86 a 14,00 pontos.
O potiguar passa a precisar de 6,86 para seguir tentando o bicampeonato em Supertubos e faz uma série de seis manobras numa direita, mas ela perdeu força durante o percurso e a nota foi só 5,17. Caio se entoca num tubão, mas não sai. Italo pega uma direita bem maior, no entanto só proporciona uma manobra forte que valeu 4,57. Aí ele passa a arriscar os aéreos e falha na primeira tentativa, mas logo decola em outro voo na onda seguinte e faz a giração completa no ar. Os juízes lhe dão a mesma nota 7,43 que Caio já havia ganho duas vezes.
Com ela, virou o placar para 15,43 a 14,86 e deixou o guarujaense precisando de 8,00 pontos nos 10 minutos finais da bateria. O tempo passa rápido e Caio não consegue achar nenhuma onda com potencial para isso. Italo então avança para a final do MEO Rip Curl Pro Portugal pela terceira vez na carreira, a segunda consecutiva em Supertubos. Agora, para disputar a liderança do ranking com Jordy Smith. Apesar da derrota, Caio Ibelli praticamente garantiu sua classificação para a elite dos top-34 que vai disputar o CT 2020 com este resultado.
“É realmente um grande presente”, disse Caio Ibelli. “Eu cheguei aqui em 23.o no ranking, fora dos 22 que se classificam para o CT e todo mundo que está ali naquele bolo está surfando muito bem. Parece que quando você desce, fica difícil subir, mas muita coisa aconteceu aqui e me sinto abençoado por chegar nas semifinais. Eu realmente precisava desse resultado e agora posso ir para Pipeline mais tranquilo, só tentando terminar bem o meu melhor ano no CT”.
LIDERANÇA NA DECISÃO – A decisão do título começou com Jordy Smith largando na frente com nota 6,17, mas Italo Ferreira manda um aéreo reverse muito alto numa direita da série logo em sua primeira onda, que arranca a primeira nota 10 do MEO Rip Curl Pro Portugal esse ano. O potiguar voa de novo numa esquerda, completando mais um aéreo rodando perfeito que vale 7,83, deixando o sul-africano nas cordas com suas apenas duas primeiras ondas surfadas na bateria. Enquanto Jordy falha na aterrissagem dos seus voos, Italo acerta outro aéreo full rotation perfeito numa direita para aumentar a “combination” com nota 8,43.
Na onda seguinte, continua o espetáculo em outra onda que valeu 7,87, não mudando a já melhor apresentação de todo o campeonato. Sua segunda vitória consecutiva no MEO Rip Curl Pro Portugal, foi conquistada batendo seus próprios recordes nas ondas de Supertubos esse ano, com a única nota 10 e os 18,43 pontos superando os 18,40 da quarta de final com o australiano Jake Freestone, na primeira atuação do potiguar no sábado decisivo em Peniche.
“Você quer ser o melhor do mundo fazendo o seu melhor e foi o que ele (Italo Ferreira) conseguiu lá fora, então parabéns ao Italo que surfou de uma forma inacreditável nessa final”, disse Jordy Smith. “Eu precisava fazer também algumas manobras grandes, mas não consegui. Mesmo assim, estou superempolgado em poder disputar o título mundial em Pipeline. Meu treinamento será intenso para isso, trabalhando em minhas pranchas e no meu físico. Isso é tudo o que eu posso fazer, chegar no dia pronto para competir em alto nível lá no Havaí”.
TÍTULO MUNDIAL – O resultado do MEO Rip Curl Pro Portugal deixou uma disputa do título mundial certamente emocionante para a última etapa da temporada. Principalmente entre os quatro primeiros do ranking, com o campeão podendo ser até definido na bateria final do Billabong Pipe Masters. Isso se acontecer uma segunda decisão brasileira no maior palco do esporte, como em 2015, quando Adriano de Souza derrotou Gabriel Medina já como campeão mundial daquele ano. Agora, a briga do título pode acontecer na última bateria da temporada, se ela for entre Italo Ferreira, Gabriel Medina ou Filipe Toledo.
Aí, a vitória valerá o troféu de melhor surfista do World Surf League Championship Tour 2019 para qualquer um dos três. Os brasileiros só dependem deles mesmo então, mas o título pode ser decidido antes, conforme a combinação de resultados dos cinco concorrentes durante o último desafio do ano. Italo Ferreira será o campeão se vencer o Billabong Pipe Masters e se ficar em segundo também, desde que a final não seja contra o Gabriel ou o Filipe.
Seu primeiro título também pode ser sacramentado nas semifinais, mas só se Medina não chegar na grande final e Filipe ou Jordy Smith não vencerem o campeonato. Se perder nas quartas de final, Medina ultrapassa o potiguar já nas semifinais, Filipe também se passar para a final e Jordy com a vitória em Pipeline. Se Italo ficar nas oitavas de final, Medina passa a liderar a corrida pelo tricampeonato se avançar para as quartas de final, Filipe supera o potiguar nas semifinais, Jordy se chegar na final e até Kolohe Andino fica vivo na briga com a vitória.
A disputa no topo do ranking está tão acirrada que, caso Italo Ferreira não passe da terceira fase no Billabong Pipe Masters e permaneça com os 51.070 pontos totalizados com o bi no MEO Rip Curl Pro Portugal, poderá até despencar para o quinto lugar no ranking final da temporada. Isso se Medina e Filipe conseguirem avançar nessa mesma terceira fase para as oitavas de final, com Jordy também ultrapassando o potiguar se chegar nas quartas de final e Kolohe com a classificação para a grande final.
VAGAS NAS OLIMPÍADAS – Também ficou para o Billabong Pipe Masters, a batalha pelas últimas vagas na lista dos dez surfistas que se classificam para a estreia do surfe nos Jogos Olímpicos de Tokyo 2020 no Japão. Apenas quatro estão 100% garantidos, o sul-africano Jordy Smith, o norte-americano Kolohe Andino, o japonês Kanoa Igarashi e o francês Jeremy Flores. Com a vitória em Portugal, Italo Ferreira passou a liderar a corrida pelas duas vagas do Brasil e Gabriel Medina está com a outra no momento, mas Filipe Toledo segue vivo na disputa.
Ainda não oficialmente, dois estão praticamente classificados, Owen Wright pela Austrália e o taitiano Michel Bourez pela França, já que os concorrentes deles estão bem abaixo no ranking. A briga pela segunda vaga australiana será entre Julian Wilson que ocupa a 11.a posição e Ryan Callinan que está na 12.a. E o onze vezes campeão mundial, Kelly Slater, ainda tenta a segunda dos Estados Unidos contra o havaiano John John Florence, que deve voltar a competir no Billabong Pipe Masters, depois da contusão sofrida no Oi Rio Pro em Saquarema.
RESULTADOS DO ÚLTIMO DIA DO MEO RIP CURL PRO:
Bicampeão: Italo Ferreira (BRA) por 18,43 pontos (10,0+8,43) – US$ 100.000 e 10.000 pontos
Vice-campeão: Jordy Smith (AFR) com 6,17 pontos (6,17+0,00) – US$ 55.000 e 7.800 pontos
SEMIFINAIS – 3.o lugar com US$ 30.000 e 6.085 pontos:
1.a: Jordy Smith (AFR) 15.83 x 12.66 Kanoa Igarashi (JPN)
2.a: Italo Ferreira (BRA) 15.43 x 14.86 Caio Ibelli (BRA)
QUARTAS DE FINAL – 5.o lugar com US$ 18.000 e 4.745 pontos:
1.a: Jordy Smith (AFR) 13.40 x 10.97 Kolohe Andino (EUA)
2.a: Kanoa Igarashi (JPN) 15.24 x 12.26 Filipe Toledo (BRA)
3.a: Caio Ibelli (BRA) 12.86 x 11.83 Peterson Crisanto (BRA)
4.a: Italo Ferreira (BRA) 18.40 x 16.87 Jack Freestone (AUS)
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