Saldo da campanha brasileira em Paris 2024 e feitos internacionais
O time brasileiro nas olímpiadas de Paris 2024 fechou sua campanha com um total de 20 medalhas. Com um total de 3 ouros 7 de prata e 10 de bronze. No histórico, o Brasil conquistou 168 medalhas na história dos jogos olímpicos, todas nas edições. São 40 de ouro, 48 de prata e 80 de bronze. Fora uma rara da Pierre de Coubertin para Vanderlei Cordeiro de Lima em 2004. Lá na frente, a briga ficou por conta de Estados Unidos e China.
De 2008 para cá, foi quando o Brasil passou a faturar mais medalhas com uma boa ajuda governamental. Com o bolsa atleta criado pelo governo em 2004, o programa de alto rendimento das forças armadas, maiores valores de patrocínios e o valor arrecado pelas loterias, ajudam o COB, CPB e as confederações esportivas a funcionarem melhor e diversos atletas puderam se desenvolver chegando a disputa das olímpiadas. Ainda há muito o que se fazer nesse campo, mas é inegável que nosso esporte vem tendo um maior investimento ao menos na elite, na base ainda carece de investimentos o que dificulta a renovação e faz ainda depender de aparecer algum fenômeno nas modalidades olímpicas para entrar nesse grupo seleto.
Mas será que o Brasil melhorou ou piorou em Paris 2024? Se formos falar somente em medalhas de ouro, ganhamos menos que Tóquio 2020, Rio 2016 e voltamos ao patamar de Pequim 2008 e Londres 2012 com 3 ouros conquistados. Mas se formos falar no total, foram 20, que fica como segunda melhor campanha, perdendo para Tóquio 2020 onde saímos com 21 medalhas e a frente do Rio 2016 com 19 medalhas. Mas o que muda é que o Brasil sai da lista dos 15 melhores países com mais ouros e fecha a campanha em 20o lugar.
Sendo assim, o que podemos falar desses jogos? Com uma delegação 55% feminina, era lógico que as mulheres iriam dominar as conquistas. As 3 medalhas de ouro foram delas e consagrou Rebeca Andrade como a maior ganhadora de medalhas do país com um total de 7 conquistas que ainda pode aumentar sua relevância caso vá competir em Los Angeles em 2028.
Mas o que chama a atenção foram a quantidade de medalhas em esportes coletivos onde dessas 20, apenas 4 conquistas foram coletivas e as demais individuais e esportes que costumavam trazer medalha como hipismo e vela passaram em branco nesta edição.
Vamos analisar esporte a esporte com a campanha dos brasileiros e feitos internacionais:
Atletismo
Foram duas medalhas: Caio Bonfim que disputou sua quarta olímpiada e conquistou uma inédita prata e Alison dos Santos, o Piu, que em sua segunda disputa, conquistou novamente o bronze e não chegou no seu melhor momento, mesmo vindo ganhando diversas provas nas etapas da Diamond League e ter ganho no mundial de Budapeste em 2023. No mais, Brasil ficou em 7o no revezamento da marcha atlética novamente com Caio Bonfim e Viviane Lyra e conseguiu chegar nas finais do salto triplo com Almir dos Santos, lançamento do dardo com Luiz Maurício da Silva, salto em altura com Valdiléia Martins que se lesionou e não disputou mas igualou o recorde brasileiro. O atletismo testemunhou a holandesa Sifan Hassan repetindo o feito do teco eslovaco Emil Isatopek que em 1952 ganhou medalhas nos 5000m, 1000m e na maratona, ficando a diferença que ela fez 2 bronzes e um ouro e Isatopek foram 3 ouros.
Badminton
Ygor Coelho e Juliana Viana não passaram da primeira fase e não se esperava muito mais que isso. Ygor disputou sua 3o olímpiada e Juliana foi pela primeira vez e deverá representar o Brasil nas próximas competições.
Basquete masculino
Um dos esportes mais difíceis de se classificar (são apenas 12 vagas), o Brasil conseguiu pegar a última vaga na última repescagem e ter chegado as quartas de final foi uma surpresa e já se sabia que não teria chance de vencer os americanos nas quartas de final. Mas vale salientar que a preparação não foi das melhores. O basquete brasileiro vem tendo diversas confusões políticas que envolvem brigas da CBB que retirou a chancela do NBB como o campeonato brasileiro, trocou Gustavo de Conti por Petrovic na reta final como técnico no masculino, a saída de José Neto no feminino e vinha antes de uma intervenção da Fiba que impediu o Brasil e os times brasileiros de participar de competições internacionais. Essas confusões explicam a história de Petrovic ter comandado a seleção sem receber. O ouro mais uma vez foi para os Estados Unidos de Lebron James, Kevin Duran e Sthefen Curry e com dificuldade. Nas semifinais tiveram que dar uma virada histórica em cima da Sérvia para chegar a final diante da França e que por pouco, não perderam a final.
Boxe
Bia Ferreira ganhou o bronze perdendo para sua algoz Kellie Harington da Irlanda na semifinal (no boxe não existe luta pelo bronze) e ficou só nisso. O Brasil vinha ganhando de 2 a 3 medalhas no boxe e não conseguiu repetir suas melhores campanhas. O esporte corre o risco de não estar no programa olímpico de Los Angeles 2028 por conta de brigas envolvendo o COI e a Federação Internacional de Boxe que não mais reconhece a federação como representante que envolve corrupção, tráfico de drogas e até sobra para Rússia. As seletivas foram organizadas pelo COI o que gerou o caso da atleta de Argélia Imane Khelif que acabou ficando com o ouro. Pela Federação Internacional de Boxe, ela havia sido reprovada no teste de feminilidade, mesmo sendo mulher e liberada pelo COI por passar nas seletivas.
Canoagem de velocidade
Em sua 3o olímpiada, Isaquias Queiroz ganhou somente um bronze na disputa do C1 1000m e sua 5o medalha. Está faltando terem novos talentos para seguir o caminho do nosso grande medalhista.
Canoagem Slalom
Como virou meme, Ana Sátila disputou um total de 15 provas e se dizia que ela estava batendo ponto. Pepê Gonçalves também representou o país. A canoagem slalom melhorou bastante e tem condições de num futuro trazer medalha.
Ciclismo
No BMX Freestyle, Gustavo Bala Loka conseguiu um inédito 6o lugar. Nas outras modalidades, os brasileiros não foram bem e nada muito diferente do que se esperava.
Esgrima
Única esperança de ir mais longe, Nathalie Moellhausen competiu contra ela mesma e um tumor e não saiu da primeira luta, assim como os outros atletas. O Brasil não tem tradição na modalidade.
Futebol Feminino
Certamente foi uma medalha de prata bem inesperada pelo retrospecto recente em mundiais e os jogos olímpicos passado. A seleção começou o torneio com uma vitória e duas derrotas na fase de grupos e só avançou por ser uma das melhores terceiras colocadas. O Brasil conseguiu duas vitórias de classe contra França e Espanha para chegar a final e perder diante da melhor seleção do planeta, a dos Estados Unidos. Mas mostrou que pode jogar sem Marta, que se despediu nesses jogos olímpicos, diante de qualquer adversário, já que ela foi expulsa diante de uma falta pesada que cometeu no jogo do Japão e não jogou a quartas e nem a semifinal. Ficou nítido que está havendo uma renovação na modalidade.
Ginástica Artística
Diante do bom trabalho feito no passado, o Brasil segue trazendo medalhas na modalidade e tem Rebeca Andrade como a maior ganhadora de medalhas na história do esporte brasileiro com 6 até aqui. Ela ainda tem condições de participar de mais um jogos olímpicos e aumentar esse número. Das 4 conquistas, foi um inédito bronze por equipes e um ouro e duas pratas para Rebeca no individual. O time masculino saiu sem nenhuma conquista. Vale destacar o retorno em alta performance da americana Simone Biles que competiu de igual para igual com Rebeca.
Ginástica de trampolim
Rayan Dutra foi 12o e Camila Gomes 14o colocados
Ginastica ritmica
Barbara Domingos, a Babi conseguiu um inédito 10o lugar geral na individual geral e por equipes, o Brasil ficou em 9o e eliminado pela atleta Victória Borges ter se machucado. O Brasil vem melhorando na modalidade e disputa o mundial ano que vem no Rio e deverá vir mais forte para Los Angeles 2028
Handebol feminino
O Brasil que foi já foi campeão mundial em 2013, chegou as quartas de final nessa edição sendo parado pela Noruega que acabou com a medalha de ouro. A campanha contou com uma vitória sobre a Espanha e Angola, derrotas para Hungria, França, Holanda na fase de grupos.
Hipismo
Campanha decepcionante. O Brasil saiu sem medalhas, mesmo com a presença de Rodrigo Pessoa que chegou a sua 9o olímpiada.
Judô
Mantendo a tradição, o Brasil sempre traz medalhas na modalidade. Foi responsável por 4 medalhas, sendo um ouro de Beatriz Souza, prata de Wiliam Lima, bronze de Larissa Pimenta e por equipes. O Judô passou a ser o esporte que trouxe mais medalhas para o Brasil na história dos jogos e segue renovando os atletas o que provavelmente irá trazer novos nomes no futuro. O francês Tedy Riner se sagrou como o maior medalhista da história ganhando a terceira medalha de ouro seguida na categoria peso pesado e ainda ajudou a França a ganhar mais uma medalha na competição por equipes.
Levantamento de peso
Laura Amaro conseguiu um 7o lugar inédito e Amanda Schott em 8o.
Maratona aquática
Ana Marcela Cunha bateu na trave e ficou em 4o não repetindo o desempenho de Tóquio. Viviane Jungblut ficou em 11o. No naipe masculino, Guilherme Costa não completou. A competição marcou por ser disputada nas águas do Rio Sena com alto índice de poluição.
Natação
Assim como no Rio em 2016, o Brasil ficou sem medalhas e o episódio que marcou a equipe foi a expulsão Ana Carolina Vieira por ato de indisciplina, segundo o COB. A natação brasileira está precisando de uma renovação. O chinês Pan Zhanle de 19 anos bateu o recorde mundial dos 100m rasos, marca que pertencia a César Cielo até o mundial do ano passado. O francês Léon Marchand ganhou quatro ouros e um bronze e merece destaque e é candidato a igualar ou passar a marca do americano Michael Phelps em outros jogos. A americana Katie Ledecky conseguiu grandes feitos ao se tornar tetra campeã dos 800 metros livre e está invicta há 14 anos nessa prova, igualando a marca de Michael Phelps que foi tetracampeão nos 200 metros medley, chegou a 14 medalhas olímpicas igualando-se a Larissa Latynina que atingiu essa marca entre 1956 e 1964. E aos 27 anos, Katie Ledecky ainda tem muito que competir.
Pentatlo Moderno
Isabela Abreu não se classificou para final e terá novas chances no futuro por ainda ser sua primeira olímpiada.
Remo
O Brasil mandou dois representantes, Lucas Verthein e Beatriz Tavares no Skiff simples e ambos acabaram em 15o geral. O remo nunca caiu do gosto popular.
Rugby de 7
Disputado de 2016 para cá, em sua terceira participação, as Yaras conseguiram uma inédita vitória sobre Fiji que as levou a conquistar um inédito 9o lugar. O Brasil segue sendo dominante na América do Sul, mas ao encarar as principais adversárias da modalidade, acaba tendo derrotas pesadas.
Salto Ornamental
Única representante, Ingrid Oliveira que foi 8o colocada em Tóquio na plataforma de 10m, nem se classificou para as finais.
Skate
Em sua segunda participação nos jogos, segue trazendo medalhas. Rayssa Leal no street e Augusto Akio no park ganharam medalha de bronze. O que a modalidade precisa resolver é a briga nos bastidores para quem de fato comanda no Brasil se é a CBSK como querem os skatistas ou a de Confederação de Rodas e Patins como ficou determinado pela World Skate na virada do ano. A Corte Arbitral do Esporte (CAS) concedeu uma liminar para a CBSK continuar no comando do esporte até o final do processo. Essa insegurança pode prejudicar os atletas em competições futuras.
Surfe
Também em sua segunda participação e disputado no Taiti com vários dias sem ondas, Tatiana Weston-Webb ganhou uma inédita medalha de prata e Gabriel Medina foi bronze. O “brazilian strorm” segue firme e forte e o país seguirá bem representando já que vem surgindo novos atletas disputando as principais ligas do Brasil e do mundo. Porém a competição ficou marcada por vários dias não haver ondas e as semifinais e finais serem marcadas por pequenas ondas.
Taekwondo
Com lance de sorte e competência, Edival Pontes, o Netinho, ganhou bronze na repescagem contra o espanhol Jávier Perez Polo. Ele que veio de suspensão por dopping quando descobriram alguma substancia proibida ao ganhar o pan ano passado. Em 2022, ele foi vice-campeão mundial e celebrou sua primeira medalha da carreira em Mundiais adultos.
Tênis
Thiago Wild, Thiago Monteiro, Laura Pigossi, Bia Maia e Luisa Stefani fizeram campanha mediana e não se esperava que eles fossem longe no torneio ou repetisse o feito de Laura e Luisa nos jogos passados quando ganharam o bronze. Por critérios da ITF, Marcelo Melo e Rafael Matos ficaram de fora do torneio do duplas e poderiam ir um pouco mais longe e no critério deles, os atletas da chave de simples teriam prioridade, mesmo eles dois melhores ranqueados. O principal fato do esporte foi a medalha inédita de ouro do sérvio Novac Djokovic que quase no final de sua carreira, levou o “Golden Slam”, quando se conquista a medalha de ouro e todos os quatro grand slam do circuito mundial, feito que poucos atletas tem.
Tênis de mesa
Hugo Calderano bateu na trave e ficou com o 4o lugar. No detalhe, ele perdeu a semifinal pro sueco Truls Möregårdh e na disputa pelo bronze, perdeu fácil pro francês Félix Lebrun. Ele ainda terá outra olímpiada para tentar a medalha inédita e no ranking mundial, ele é o 3o na lista e estava como uma das esperanças de medalha para esses jogos.
Tiro com arco
Candidato a medalha, Marcus D´almeida ficou pelas oitavas de final e se esperava que ele fosse as finais, mesma fase que Ana Luiza Caetano caiu o que foi resultado inédito para o Brasil.
Tiro esportivo
Georgia Furquim Bastos, Geovana Meyer e Philipe Chateaubrian ficaram pelas últimas posições.
Triatlo
Miguel Lopes Hidalgo conseguiu um inédito 10o lugar na prova masculina e por ser ainda sua primeira olimpíada, ainda tem chance de ir mais longe.
Vela
Com tradição a vela sempre trouxe medalhas. Mas dessa vez, passou em branco. Martine e Kahena que foram em busca do inédito tricampeonato, ficaram apenas com um 8o lugar.
Vôlei
O time feminino conseguiu o bronze pela terceira vez. Poderia ter chegado a disputa do ouro se não tivesse perdido no detalhe para as americanas. Já o time masculino foi pura decepção. Somente ganhou do Egito na primeira fase, perdendo para Itália e Polônia o que fez avançar como melhor terceiro colocado, acabou eliminado nas quartas para os americanos que terminaram por ganhar o ouro. O Time masculino precisa se renovar para voltar a ser vencedor.
Vôlei de praia
Depois de sair em Tóquio 2020 sem sequer disputar a semifinal em nenhum dos naipes, o Brasil voltou a ganhar um ouro com Ana Patrícia e Duda, atuais n1 do ranking mundial. As outras duplas não chegaram as semifinais, o que mostra falha na base e a falta de atletas para manter a tradição.
Wrestling – Luta livre
Giullia Penalber disputou a repescagem em busca do bronze e perdeu sua luta. Pela primeira vez, algum brasileiro chegou nessa fase no esporte.
Wrestling – Luta greco-romana
Por aqui o Brasil não teve competidor, mas a modalidade consagrou o cubano Mijaín López como o primeiro pentacampeão olímpico da história. De Pequim 2008 para cá, ele ganhou o ouro na categoria -120kg e 130kg.
Conclusão
Em alguns esportes será necessário uma reformulação e ter uma base boa para surgir novos talentos para que se tenha uma retomada de potencial e outros que infelizmente vão continuar dependendo de surgir algum fenômeno. Esse é um trabalho lento e de formiguinha que federações, confederações e o COB terão que seguir para que o Brasil possa dar bons resultados.